Ativismo político e intervencionismo podem atrasar investimentos, diz ex-secretário do Tesouro

By Tyler Benovetti 5 Min Read

A ingerência política do governo Lula nas estatais e em empresas que já foram privatizadas tem assustado cada vez mais economistas e empresários. Nas últimas semanas ficou evidente a determinação do presidente da República de interferir na gestão da Petrobras.

Lula também quer mexer na governança da Vale, mineradora privatizada há 30 anos. O governo tampouco abre mão de recuperar o poder de decisão na Eletrobras, que se transformou numa corporation com capital pulverizado no mercado.

Para Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e sócio da Oriz Investimentos, o movimento do governo é injustificado e desperdiça o bom momento que o país vive na economia.

Em entrevista, Kawall avalia que neste terceiro mandato, Lula ainda não entendeu que não há mais espaço para o governo gerenciar a economia.

“Esse ativismo parece ser gerado pela insegurança do governo sobre a popularidade. O viés intervencionista em uma empresa como a Vale, querendo interferir na governança da companhia, qual é o objetivo? Nós já sabemos que o custo-benefício disso é altíssimo. Nos governos anteriores do PT, não houve essa ingerência na estratégia da empresa, nunca tinha chegado a esse nível”, disse o economista.

Segundo Kawall, o investimento ainda é o elo fraco da cadeia econômica brasileira e a decisão empresarial demanda segurança.

Ao assistir ao grau de intervenção que o presidente Lula tem anunciado em estatais e até empresas privadas, a decisão pode ser adiada. Além de desviar o foco do que o país pode fazer de melhor, que é liderar a transição energética.

“A gente podia estar surfando nos aspectos positivos da atividade econômica. O ministro Haddad poderia estar chamando mais atenção para os principais projetos da agenda de descarbonização, da transição verde. O que vemos é o governo querer colocar mão pesada na Eletrobras, que é coração do setor elétrico e importante para descarbonização”, avalia.

O maior risco para a economia brasileira hoje é o cenário externo, especialmente nos Estados Unidos e a trajetória da taxa de juros americana, na avaliação do ex-secretário do Tesouro.

No Brasil há surpresas positivas com crescimento da atividade, a queda da inflação, o mercado de trabalho aquecido e a redução dos juros pelo Banco Central.

Segundo Kawall, a geração de empregos formais em janeiro, acima de 180 mil vagas, foi o melhor resultado para o mês nos últimos dez anos. Sobre a inflação, o economista concorda que a alta nos preços dos alimentos deu um susto, mas já está voltando, portanto, não justifica o desejo de Lula de exercer qualquer controle sobre isso.

“Fica até meio piegas essa obsessão de querer segurar preços. O governo está com grau de ansiedade muito grande, a economia não justifica isso. Se o PIB crescer 2% será numa composição mais saudável do que a de 2023, quando só o agronegócio teve destaque. Essa situação da economia deveria gerar um alívio do ponto de vista político”, diz Carlos Kawall.

Sobre a política fiscal, o economista avalia que a receita do governo está aumentando pelo crescimento econômico e pelas medidas aprovadas pelo Congresso.

Mesmo sem ter resolvido a questão estrutural das contas públicas, ou de controle da dívida pública, tudo indica que o contingenciamento de despesas neste ano será mais baixo do que o previsto anteriormente pelo mercado.

“A meta de zerar o déficit primário só deve ser revista no terceiro trimestre. O contingenciamento das despesas agora, em março, não deve chegar R$ 25 bilhões, o que já é baixo frente a trajetória mais negativa esperada antes. A previsão para o déficit do ano também melhoraram, caminhando para algo entre 0,6% e 0,5%. Bem melhor do que muita gente experiente que apontava para mais de 1% do PIB”, diz Kawall.

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