O dólar desceu mais um degrau e passou a ser negociado na casa de R$ 4,98, em sintonia com o movimento global da moeda americana na esteira do anúncio da decisão de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Como esperado, o Banco Central nos EUA manteve a taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. No comunicado, o Fed repetiu que não será apropriado reduzir os juros até que haja mais confiança de que a inflação ruma de forma sustentável para a meta de 2%.
As taxas dos Treasuries curtos recuaram e ativos de risco ganharam fôlego com a manutenção da projeção de três cortes de juros de 0,25 ponto porcentual da taxa básica neste ano, conforme a mediana das estimativas. No chamado gráfico de pontos, nove dirigentes projetam taxa básica entre 4,50% e 4,75% em dezembro. De outro lado, o Fed elevou as projeções para inflação e crescimento neste ano.
Houve um aprofundamento maior ainda das perdas do dólar, que renovou mínima a R$ 4,9719, durante declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva, fechando o dia a R$ 4,9744.
Powell acenou com a possibilidade de cortes de juros neste ano, embora tenha ressaltado que dirigentes não falaram nesta quarta em um mês específico para a primeira redução, e minimizou as leituras mais recentes de inflação. “Não vamos reagir em demasia a um dado específico”, disse o presidente do BC norte-americano.
O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que o Fed revisou para cima a taxa de juros esperada no fim de 2025 e 2026, mas manteve a expectativa de cortes de 75 pontos-base neste ano, o que trouxe alívio ao mercado.
“Powell comentou que, apesar de emprego e contratações ainda em bom momento, isso não deveria ser visto como uma razão para postergar cortes nas taxas de juros. Fica a impressão de que querem ajustar o nível de juro real, pois não precisam seguir por muito tempo com o mesmo nível de aperto”, afirma Monoli, lembrando que o presidente do BC americano também comentou que seria apropriado em breve diminuir o ritmo de redução do balanço da instituição.
Monitoramento do CME Group mostra que, após a decisão do Fed, as chances de redução dos juros nos EUA em junho subiram e voltaram ultrapassar os 70%. O cenário de cortes acumulados de 75 pontos-base ao longo do ano se manteve como o mais provável.
No fim do pregão local, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisa fortes – recuava 0,41%, aos 103,417 pontos, com mínima aos 103,379 pontos. A moeda americana caía na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com perdas maiores em relação ao rand sul-africano e ao peso mexicano.
Monoli, da Azimut, afirma que a manutenção do cenário de início do processo de normalização monetária neste ano, com corte de 75 pontos-base no período, “dá suporte à manutenção de uma alocação moderada de risco”, com “bolsas para cima e dólar e curvas de juros em emergentes no Brasil caindo na margem”. Essa tendência, observa o gestor, pode ser “incrementada ao longo dos próximos meses, dependendo das próximas rodadas de dados de emprego, atividade e inflação nos EUA”.
Por aqui, a expectativa unânime é que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie nesta quarta à noite nova redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. As atenções estão voltadas ao comunicado, diante de especulações recentes de que o comitê do Banco Central pode alterar o “foward guidance” de cortes de 0,50 ponto da taxa “nas próximas reuniões”.