Dólar: 3 eventos que vão definir os rumos da moeda nas próximas semanas

Tyler Benovetti By Tyler Benovetti 7 Min Read

Esta é a semana da “Super quarta-feira” em que os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos divulgam suas decisões de política monetária. Independentemente da alta ou não de juros, o mercado está de olho é nos comunicados. São eles que devem dar uma direção ao dólar nas próximas semanas.

“Vai ser uma semana decisiva para o Brasil”, diz o estrategista da Empiricus Research, Matheus Spiess. De um lado, tem a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), na qual o mercado espera uma nova elevação da taxa de juros em 0,25 ponto percentual (p.p.).

Do outro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a taxa Selic em 13,75% ao ano mais uma vez.

Powell estressou dólar
No entanto, há duas semanas, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que havia a possibilidade de uma alta de 0,50 p.p., sem deixar claro se seria de uma vez ou se seria uma elevação residual na reunião de maio.

“Foi um erro tremendo de comunicação do Powell ao falar que tinha essa possibilidade de alta”, diz Spiess, reforçando que o Fed deve subir a taxa em 0,25 p.p. nesta quarta-feira (22). A declaração do mandatário do Fed fez o dólar disparar globalmente.

“15 dias atrás tínhamos uma expectativa de mais alta de juros pelo Fed. O mercado estava entendendo que, junto com indicadores dos Estados Unidos, a taxa chegaria próximo de 6%. Com isso, vimos o dólar voltar a se valorizar”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Em março, o dólar à vista oscilou entre os R$ 5,10 e os R$ 5,32, enquanto no exterior, o Dollar Index (DXY) – índice que mede a força do dólar ante uma cesta de moedas -, avançou ao maior nível desde o fim de novembro de 2022, acima dos 105,6 pontos.

O estrategista da Empiricus avalia que a moeda norte-americana renovou sucessivas máximas nos últimos dias refletindo quatro fatores.

“A força [no preço] das commodities, o diferencial de juros entre os Estados Unidos e o Brasil [o chamado carry trade], o impulso global que o dólar teve e o CDS que avançou este mês de 211 pontos para 263 pontos. O que é um bom termômetro para sentir a aversão ao risco do mercado”, comenta.

O risco País é medido pelos swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês). Foi só o Powell sinalizar que o Fed poderia elevar juros acima do esperado pelo mercado que veio uma crise envolvendo bancos nos Estados Unidos.

Após SVB e crise bancária, foco no comunicado
No dia seguinte às declarações do presidente do banco central no Congresso americano, o Silicon Valley Bank (SVB) – que financiava empresas do setor de tecnologia -, quebrou. “Com essa crise, a discussão é que o Fed possa não ser tão ‘hawkish‘ [agressivo] em meio à esse risco para o sistema bancário americano”, diz Abdelmalack.

Contudo, a economista destaca que, amanhã, o mercado voltará a prestar a atenção no comunicado e no discurso de Powell. “As atenções estarão voltadas mais para ele do que para a elevação do juro, seja qual for”, ressalta.

Sendo assim, Spiess acredita em um discurso, de fato, “mais dovish” (suave) pelo Fed. “Eu acho mais prudente elevar juros. Porém, acredito que o banco central possa deixar uma porta aberta de que não haverá alta de juros”, pondera.

Dólar vai romper qual “parede”?
O dólar foi às máximas em dois meses este mês, após Powell. Para a economista da Veedha, os rumos da moeda americana nas próximas semanas passam pelo tom do mandatário do Fed e pelas projeções econômicas que a autoridade monetária divulgará para o próximo trimestre.

Em contrapartida, ela avalia que um discurso de Powell com tom mais duro em relação ao combate à inflação americana e com o mercado entendendo que poderá vir novas elevações de juros, o dólar poderá ganhar força.

“Daí, a parede a ser rompida será de R$ 5,40. Mas vejo a cotação da moeda reagindo mais ao nosso cenário fiscal do que condicionada ao Fed”, diz. Além do Fed e da crise do sistema bancário americano que, após o colapso do SVB, pode levar 190 bancos para o fundo do poço, há outro comunicado na mira dos investidores.

Também nesta quarta-feira, as atenções se voltam ao Copom após sucessivas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política de juros do BC. As críticas cessaram, mas o governo segue atento aos passos da autoridade monetária.

À espera do arcabouço
Entretanto, não é só à espera de BCs que o dólar viverá. Tanto Abdelmalack quanto Spiess reforçam que a indefinição em torno do arcabouço fiscal resultam em mais gatilhos para uma escalada do dólar no mercado doméstico.

A economista acredita que “qualquer vírgula que o Copom mexa no comunicado” deverá refletir nos ativos. Além disso, na próxima semana, o BC divulga a ata desta reunião e que o teor do documento também poderá influenciar no comportamento dos ativos locais.

“No entanto, a queda de juros aqui fica condicionada a essa regra fiscal”, diz. Com isso, a expectativa é de que o dólar possa sofrer algum alívio ante o real. Por outro lado, o dólar chegaria ao patamar de R$ 5,40 “com uma decepção com o arcabouço fiscal”, observa a profissional da Veedha.

O estrategista da Empiricus também vê um “dólar estressado” caso o arcabouço fiscal seja ruim ou tenha resistência dentro do governo.

Assim, passada as decisões do BCs, diz Abdelmalack, o foco se voltará ao desenho do arcabouço. Assim, o cenário deverá ser de volatilidade. “Porém, com o mercado atento à questão do sistema bancário americano”, observa a economista.

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